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Pelo que se sabe, a mumificação dos corpos no período pré-histórico egípcio, entre 4500 e 3100 a.C., ocorria naturalmente, pois o deserto quente e seco fazia o trabalho de dessecar os corpos. Foi por volta de 2200 a.C. que começou o embalsamamento artificial usando resinas. Novas evidências, entretanto, trazem a origem da mumificação no Egito para um período anterior. Os cientistas examinaram bandagens funerárias encontradas em covas dos primeiros cemitérios catalogados, datados entre 4500 e 3350 a.C. na região de Badari, no Alto Egito. Uma delas está retratada acima. Usando análises bioquímicas, a equipe identificou nas amostras complexos agentes de embalsamamento feitos de ingredientes como óleos vegetais, gorduras animais, açúcares, resinas coníferas, petróleo natural e agentes antibacterianos aromáticos que repeliam os insetos e mantinham a carne preservada. Receitas usando os mesmos componentes em proporções semelhantes acabariam produzindo as múmias mais conhecidas no auge do período faraônico, cerca de 3000 anos depois. Os cientistas já sabiam que havia tratamento artificial dos corpos de El Badari, mas essa pesquisa lhes contou precisamente o que estava sendo usado. Esses primeiros egípcios, evidentemente, foram embalsamadores bem-sucedidos porque usaram misturas complexas de ingredientes. A conclusão é a de que a mumificação deve ter começado mais cedo do que se supunha anterirmente.
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Estudos realizados no esqueleto de uma mulher egípcia que viveu no final da VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.) detectou sinais de câncer de mama, desmentindo assim a crença de que a doença seria fruto do estilo e das condições modernas de vida. A mulher, que pertenceria à elite de Elefantina, a cidade mais ao sul do Egito, apresenta em seus ossos uma deterioração extraordinária, um típico dano destrutivo provocado pelas metástases do câncer mamário. Apesar de ser uma das principais causas de morte no mundo atual, o câncer está praticamente ausente em registros arqueológicos em comparação com outras doenças. Foi isso que deu origem à ideia de que os cânceres são principalmente atribuíveis aos estilos de vida modernos e à maior longevidade das pessoas. Mas esta e outras descobertas do mesmo teor sugerem que o câncer já existia no vale do Nilo na antiguidade. A foto mostra um foco de formação de um novo osso — indicado por setas — em uma lesão.
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O Museu de Manchester realizou um estudo científico escaneando múmias de animais por meio de raios-X e tomografia computadorizada. Descobriram que cerca de um terço dos pacotes de bandagens não contém restos de esqueletos e estão cheios de outros materiais. Basicamente, material orgânico. Lama, gravetos e juncos, que estariam disponíveis em torno das oficinas dos embalsamadores, e também coisas como cascas de ovos e penas, que estavam associadas aos animais, mas não são os animais em si. Muitas vezes as múmias mais lindamente embrulhadas não contêm os restos dos bichos. Ao que parece havia enorme procura por essas oferendas religiosas e a demanda pelas múmias pode ter superado a oferta. Os animais foram criados e mortos em escala industrial, sacrificados quando eram ainda muito pequenos. Cerca de 30 grandes catacumbas foram descobertas no Egito cheias, do chão ao teto, com milhões de múmias. Cada tumba era dedicada a uma única criatura: cachorros, gatos, crocodilos, íbis e macacos. Os cientistas estimam que 70 milhões de animais podem ter sido mumificados pelos egípcios. Para alcançar tais quantidades era necessário a existência de um programa de criação muito específico. A equipe de pesquisa conduziu o maior projeto de varredura do gênero. Mais de 800 múmias, desde gatos e pássaros até crocodilos, foram analisadas. Cerca de um terço do material digitalizado contém animais completos, que foram notavelmente bem preservados. Outro terço contém restos parciais — mas os restantes estão vazios. Na ilustração alguns dos espécies examinados.
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Até o Museu do Vaticano abriga duas múmias falsas entre as nove que possue. A resina amarelada usada em uma das cartonagens remonta a meados do século XIX e era usada frequentemente na Grã-Bretanha para dar às antiguidades uma camada dourada. Traços de zinco e de estanho foram encontrados nas tintas que incluíam pigmentos que não eram utilizados pelos antigos egípcios. Escaneamentos revelaram ossos masculinos e femininos na mesma múmia, sendo que um deles é a tíbia humana de um adulto datada da Idade Média. Há também uma fíbula, ossos do pé e uma vértebra. Um prego moderno foi achado entre os restos do esqueleto. Acreditava-se anteriormente que os objetos chamados de "mini-múmias", um dos quais vemos na foto ao lado, eram de uma criança ou de um animal, provavelmente um falcão, e originários do antigo Egito. As múmias, com cerca de 60 cm de comprimento, estão envoltas por bandagens do período egípcio o que levou os egiptólogos a acreditarem que eram verdadeiras. Provavelmente os responsáveis pelas falsificações do século XIX tinham acesso a tais materiais autênticos devido à egitomania que imperava naquela época. A descoberta foi possível graças à utilização de tomografia computadorizada em 3D, raios-X, testes de DNA, luz infravermelha, luz ultravioleta e datação por carbono.
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Cientistas da Universidade de Zurique estudaram as alturas de 259 múmias e concluiram que os faraós eram mais altos do que população geral do Egito na época e variaram menos em estatura . Isso sugere consanguinidade entre a realeza. Os soberanos acreditavam que eram descendentes dos deuses e queriam preservar sua linhagem sagrada através do relacionamento incestuoso. A altura das pessoas é um caráter altamente hereditário e pode evidenciar a endogamia, ou seja, a união sexual entre indivíduos aparentados, geneticamente semelhantes. O estudo coletou uma das maiores coleções de estatura dos antigos egípcios e abrange todos os principais períodos de sua história. Amenófis I (c. 1525 a 1504 a.C.) foi considerado o produto mais óbvio do incesto: ele pode ter nascido de três gerações de casamentos entre irmãos. Fontes históricas relatam que o grupo familiar desse soberano praticou um alto nível de casamentos incestuosos. A variação de altura dentro dessa família é a mais baixa de todas aquelas que foram investigadas pelo estudo em questão. Já Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.) teve pontuação menor na escala incestuosa, pois seus avós eram irmãos, mas não seus pais. Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), com 1,73 m de altura, era o mais alto dos faraós sob investigação. Verificou-se, por outro lado, que havia pouca diferença na altura entre as rainhas e as mulheres não pertencentes à realeza. Na foto, cabeça mumificada do faraó Amósis (c. 1550 a 1525 a.C.) cujos pais e avós eram, provavelmente, pares de irmãos.
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